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Irmã Diná Lousa e o Carisma Salesiano

Patronesse: Diná Lousa, cuja cadeira de n° 11 é ocupada pela confreira, Claudinéia Araújo.

Irmã Diná Lousa e o Carisma Salesiano

No dia 14 de julho de 2019, no jornal A VOZ de Silvânia, Nº 199 - Ano 17, uma matéria especial sobre esta Irmã Salesiana, escrita por Cida Sanches e Claudinéia Araújo na coluna Se Liga na História. 

A coluna Se Liga na História, a cada mês divulga um texto, de uma série de artigos produzidos pelos escritores/as, poetas/poetisas, artistas plásticos/as e historiadores/as da Academia de Letras, Artes e História de Silvânia - ALAHS. O objetivo é divulgar as primeiras produções realizadas pelos membros da Academia e suas biografias, como também divulgar a própria Academia e os seus Patronos.

A divulgação das biografias dos membros fundadores toma-se importante para que a população possa conhecer mais de perto todos aqueles que ocupam as cadeiras que compõem a Academia, neste momento de sua criação. Toda esta produção faz parte da primeira Revista da Academia de Letras, Artes e História de Silvânia. Ano 1 - n° 1, de 28 de setembro de 2018.

Desta forma, este mês será divulgado a Patronesse: Diná Lousa, cuja cadeira de n° 11 é ocupada pela confreira, Claudinéia Araújo.

Segue o texto redigido por Claudinéia Araújo sobre a Irmã Diná Lousa e logo em seguida a biografia da autora.

Cida Sanches é professora, membro fundador da ALAHS, historiadora e escritora.

 

Cadeira n° 11 da ALAHS 

Um encontro inesperado com Vitalina Diná Lousa 

Por Claudinéia Araújo

Quero iniciar a narração desta surpresa e deste encontro inesperado, creio que para ambas, usando as palavras dela ao iniciar a escrita do histórico do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora da cidade de Silvânia: Não queria me ater aqui neste diálogo a dados históricos, datas ou descrições materiais, queria encontrar uma forma de alcançar a alma dessa mulher tão ilustre em sua cidade natal, para assim com êxito tentar descobrir no mundo inteligível um meio de apresentá-la a vocês, queridos interlocutores, da forma mais próxima de como a conheci, no dia de seu aniversário de 105 anos e como a reconheci como uma mulher singular e icônica, como só as que o são, podem reconhecer-se no primeiro encontro.

Quero atar-me a sua vivência, a sua singularidade enquanto ser humano, especialmente, e não somente como figura religiosa desta cidade de interior, falo sabendo que a religiosidade é aquilo que move o espírito de nossa cidade, e que aqui a religiosidade perde o caráter doutrinador e ganha essa poética cultural de uma cidade com valores altruístas e devocionais.

No entanto, assim já aponto que embora conhecida como Irmã Diná, essa moça do interior, era muito mais que esse título, Vitalina Diná Lousa, nascida em Silvânia na data de 14 de agosto de 1913, talvez por ironia do destino, ou melhor: pelos desígnios, insondáveis de Deus, também no dia 14 de agosto de 2018 ao visitar sua casa, Colégio Nossa Senhora Auxiliadora da cidade de Silvânia a conheço e reconheço nas narrações emocionadas de suas Irmãs;

Este enredo parte do ano de 1937 no qual é levada por Dom Emanuel a conhecer o carisma Salesiano, no momento tal religioso era bispo de Goiânia, e amigo do pai de Diná, Sabendo dos desejos de Vitalina Diná de tornar-se Irmã convidou-a para ser parte da congregação Salesiana que justamente vinha de encontro a esse espírito jovial de luta e também delicadeza como o fundador da mesma, Dom Bosco.

Seu pai era um homem de muitas posses, foi ele quem doou o local da sede do Instituto Auxiliadora, e foi a partir de tal doação que vieram as primeiras Irmãs Salesianas a Silvânia no ano de 1932: Irmã Virginia Meracca, Irmã Zoe Versiani, Irmã Maria Luiza Silva e Irmã Elzira; ao dispor de uma parte de suas posses para a criação do Colégio o pai também entregava para a congregação Salesiana talvez a sua obra-prima de valor imensurável, Diná.

Em seu aniversário de 105 anos a encontro mais madura do que a moça delicada e tímida que me apresenta sua ex-aluna, sua irmã de votos, Irmã Jesuína: que me diz sorrindo que aprendeu três coisas com Irmã Diná: "Geografia, pintura e a fazer rosas". E pelo seu sorriso e relatos logo entendo que seu lugar preferido era um ateliê, local de ensino de pintura e geografia, onde empresta seu atlas a irmã Jesuína que no ano de 52 e 53 era sua aluna.

Nesse momento nós reconhecemos, essa figura que até então me era estranha, me encontra e sinto sua alma de artista; Jesuína a descreve, sorrio, como se a visse diante de mim, ali, naquele corredor a me encarar com mesmo espanto e carinho que a vislumbro: "olhos arregalados, azuis, grandes, um sorriso largo, dentes largos e as bochechas quase sempre estavam vermelhas".

Meu olhar alcança alguns de seus quadros que estão na capela do Instituto Auxiliadora, era uma artista, era meiga, sempre sorria, não sabia lidar com homenagens e agradecimentos, a imagino corar sabendo de minhas intenções, reservada e meiga, nenhuma dessas qualidades a desqualifica enquanto mulher que luta dentro de seu tempo, com as possibilidades de seu tempo, nem sua timidez a impediu de que fosse uma mulher forte ao modo Mariano.

Jesuína me diz como em uma confissão, "ela tinha dificuldade com a disciplina," não conseguia discipliná-las quando as meninas começavam a fazer artes ela parava tudo e começava a rezar, ouço sua voz, "Sagrado Coração de Jesus, eu confio e espero em Vós", as meninas olhavam para ela talvez por piedade, talvez porque aquela oração alcançava seus bons sensos e então as garotas paravam a bagunça e novamente o silêncio reinava, e ela então conseguia fazer aquilo que lhe havia sido determinado fazer, ensinar as garotas.

Novamente nos entreolhamos na década de 60 houve algumas quebras de convênios e o Instituto Auxiliadora sofre a grande ameaça de ter que fechar suas portas, com tudo àquilo que lhe é possível e como diretora da entidade busca a sociedade Silvaniense e consegue manter o Instituto aberto para outras garotas que como ela sonhara em percorrer o caminho religioso; quando venho a ler sua biografia feita na data da sua despedida em 19 de Agosto de 2000 em Anápolis no Patronato Madre Mazzarello, Irmã Inês Gilá, Suíça, que morou com Irmã Diná, diz: "Ela era muito distraída, eram famosas suas distrações e inúmeros os fatos que resultaram de seus enganos, o melhor é que ela tinha a virtude de rir de si mesma de modo que os comentários jocosos partiam primeiro dela e faziam a comunidade rir com gosto. Era muito ligada à família, Sete irmãos e os muitos sobrinhos que ela estimava com quase devoção."

Irmã Jesuína me relata: "fizemos 600 dúzias de lírios de tecido para a canonização de Madre Mazzarello, eu, minha irmã e algumas outras garotas passávamos o dia no Ateliê fazendo lírios, muitos lírios, aprendi com ela três coisas: geografia, pintura e a fazer rosas, (risos) lírios".

Esse encontro com Irmã Diná em seu aniversário é para mim um presente, percebo agora que tudo me encaminhou até aqui, entro na capela escura, os Vitrais coloridos e sinto em mim os raios de sol do fim da tarde, percebo a singeleza de sua pintura nos quadros da Via Sacra, são tons claros, pastéis, foca-se na paisagem.

Assim como sua pintura ela era singela, delicada, despretensiosa, fazia-se amiga de todos, foi uma artista; "quando se tratava de peças para Capela colocava na pintura sua alma", eu leio em sua biografia.

Ao escrever a história do Instituto Auxiliadora Diná despede-se de Irmã Maria Lanna que havia lhe solicitado um histórico do colégio:

Quem a conheceu como já ressaltou anteriormente irmã Jesuína, Irmã Diná não conseguia manter a disciplina, mas a vida é assim mesmo Irmã Vitalina Diná de Lousa, irmã, mulher, tia e artista, eu te entendo, às vezes não dá para passar a limpo. Você fez um belo trabalho.

Satisfação em conhecê-la.

 

Biografia da Confreira Claudinéia Araújo

Sou Claudinéia Conceição Araújo, assino Claudinéia Araújo, e uso o pseudônimo Senhorita Araújo, nasci em 1º de abril de 1990 e as piadas são as mesmas toda vez que respondo a data do meu aniversário, és uma mentira, sou sim, uma mentira poética, me confundo inúmeras vezes dentro de mim: a mulher que sou, a que desejo ser e a que gostaria que as pessoas vissem; E tudo continua incompleto; Só na minha escrita encontro uma extensão de mim que me leva a sentir menos vazios e alguma esperança de conseguir conviver com minha sobrevivência, muitas vezes covarde, diante das crueldades deste país.

Eu comecei a escrever aos 11 anos, após ser premiada numa redação escolar: "Se eu fosse presidente" acho que a minha primeira escrita já me antevia qual seria meu instrumento de luta contra o sistema; Nem sempre sou tão otimista, muitas vezes acredito que não estou sendo ouvida; nem lida, que estou sendo incômoda, porque muitas vezes o que eu tenho a escrever não é o que vocês possam desejar ler, queria que todos percebessem como é incomodo viver num país neocolonialista;

Escrevo poesia desde os 11, meu primeiro caderno de poesias foi queimado, por uma crítica de minha mãe, eu ainda não sabia como lidar com a crítica; mas com o tempo aprendi a me reafirmar, desde criança disse que seria escritora, como se fosse possível professora por hobbie, talvez eu ainda tenha algum otimismo afinal.

Embora o que mais escreva seja a poesia, que é mais fluida, rápida e ansiosa, como eu, que não consegue usar tal nome como profissão, ainda acredito que sou escritora por profissão e concentrar-se por horas num mesmo objeto, e que embora direta seja também simbólica: linha entrelinha e não linha, escrevo alguns contos e tento um romance.

Por fim escrevo porque embora muitos dias eu pense em desistir de toda utopia e luta, há ainda dias, os que me salvam, em que acredito que a arte sobrevive ao tempo, à ignorância, e que a arte pode chegar aonde nenhum argumento ou discussão chega, o coração do ser humano.

A arte sobrevive ao tempo, ao estilo, a moda.

Por isso Pessoa, Clarice, Gullar, Renato Russo ainda são, e em 1000 anos ainda serão, contemporâneos.